terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sobre papelaria.

Uma folha em branco. 
Não sei quanto tempo tem que não sinto este prazer, mesmo que esta folha seja um campo branco no meio de uma tela. Quando nova, eu costumava escrever no diário, que também fazia as vezes de agenda cotidiana e também de amigo oculto. Mas acumulando-os, percebi o risco que é tê-los, não pelo desvendamento de segredos obscuros (porque estes são mesmo obscuros), mas pelo registro do ser no passado. Foi. Fui. E agora, quem sou?
As dúvidas persistem em cada fase da vida, tomando diferentes formas, novos nomes e agora revertidas em rugas. É difícil encarar o passado, mas o futuro? Este é bem pior. As conquistas surgem e te escapam das mãos como quem teima em te dizer que você ainda é aquela menina que sonhava com coisas tão impossíveis. Outras vezes, acontecem, como se você nem tivesse pedido.
Persistir numa personalidade edificada não é mais tão difícil como antes, mas dizer não ainda dói. E olhe que não tenho filhos. Aliás, filhos seriam um grande problema, ao invés de uma satisfação do meu lado maternal. Um cachorro me ajuda com isso.
Ainda gosto muito de papelaria, talvez pela enorme quantidade de folhas em brancos. E da variedade, é claro, com que se apresentam. Cores, tamanhos, tipos, qualidades e o inconfundível cheiro de livro-caderno-agenda nova. E a primeira letra numa folha em branco: Um início que estraga, que desvirgina e que desencanta. Mas necessário. E imprescindível.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Pensamentos perdidos, blog resgatado.

E eu sei lá quando foi a última vez que escrevi neste blog. Sei que tem anos, tem pelo menos alguns invernos, que finalmente conheci depois que saí de casa. Alguns verões também, diferentes de tudo que já vi. Mais quentes, mais infernais, menos meus. De vez em quando passava por estas terras remotas e pensava no quão despretensioso é isto aqui. É um blog que eterniza minhas fases de forma que eu terei acesso ao que penso quando tiver oitenta anos. Tenho certeza absoluta que ainda vai ter Internet nessa época, porque hoje em dia ainda tem televisão.
Hoje, com 26 anos, não sou o que idealizava com 17 anos, embora vista tailler de vez em quando. Não tenho muito dinheiro e não tenho um marido rico, mas isso eu sabia que não ia ter. Não tenho filhos e me orgulho de não ter sido desastrada de lá pra cá, neste sentido. Aliás, tenho um cachorro, além de Magali (que já é da minha mãe há onze anos) e ele se chama Aramis.
Eu sou noiva, sem alianças. Descobri que a maior aliança é a da cumplicidade plena, o que não quer dizer perda dos seus direitos individuais. Perdi meus cabelos compridos numa redefinição de identidade. Pootz, que momento.
Sinto falta de bebedeiras e, quando bebo, me pesa a consciência uma responsabilidade sobre alguma coisa que não sei o quê. É como se eu estivesse errada e isso me leva ao questionamento a respeito de muitas convicções sociais, papo para um dia em que eu esteja um pouco mais política.
Sinto falta da política, mas em ano de eleição adoro quando me aflora aquela esquerdista, idealista.
Hoje, estou disponível para matar a saudade dos amigos, mas as responsabilidades ainda não me permitiram tal feito.
Nunca senti falta de tatuagem. E sabe? Que bom que eu não me tatuei na época em que fiz este blog porque eu tinha muito menos senso estético. Embora eu já gostasse de muita coisa que eu ainda gosto.
Falando nisso, esses dias me...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Caixa de Mensagem (vazia)


É uma da manhã, está quente e meu corpo responde a medicamentos simples com alguma antipatia. Não estou bem. Sinto uma terrível sensação de coisas perdidas. Sinto que perdi coisas que não se pode perder, como admiração por mim mesma. Atualizo sites de relacionamento procurando distração. Apago e leio antigos e-mails. Profundos, épocas conturbadas. Preservo aqueles que sei que vou querer ler um dia. Tenho mania de recordações. Recordar coisas boas e coisas ruins. Recordar, coisas ruins, infelizmente, me parece inevitável. Trago à tona essas coisas de vez em quando. Para mim mesma ou para quem estiver próximo. Recordo-me de coisas que ninguém imagina e guardo como se meu peito fosse um baú velho, bem fundo, onde as coisas perdidas um dia serão fatalmente encontradas. Como se fosse uma caixa de e-mails antigos. Gostaria de ter perdido coisas de que não quero recordar. Estou com o saco cheio de muitas coisas, muitas pessoas. Não vejo a hora de me retirar, sair de cena. As pessoas reclamam da minha ausência mas ela é necessária, querida, esperada. Por mim, principalmente. Queria dar um tempo de mim mesma, visualizar de fora o meu trabalho, os meus relacionamentos, o meu caminhar, o meu falar. E me deixar caminhar para um lado oposto de mim, para a puta que pariu! Quero estar distante na mesma intensidade de quando quero voltar, rever os amigos, a família e o namorado. Hoje circulei pelo Campo Grande, passei pelo café do teatro Castro Alves, aonde eu sentava e tomava sopa com meu amigo Franklin. Estou sentindo especial saudades dele agora. Ele costumava me definir em poucas palavras, seco, rápido e conciso. Mas acho que ele é incapaz disso agora, depois de uma faculdade de psicologia nas costas. Andei pelo Canela, onde eu estudava teatro, passei pela faculdade reformada, pelo gramado onde costumava sentar para decorar texto. Senti saudades do que fui e do que poderia ter sido, mas não reclamo do resultado. Não me arrependo dos meus erros. Revitalizei minhas energias numa aula de dança, me senti querida por mim, amei meu corpo pelo menos nesse instante. Óbvio que pensei em como estaria boa nisso se não tivesse parado tantas vezes mas foda-se! Nunca se é bom o bastante em nada nessa vida. Sinto falta de uma cabeça complacente e ao mesmo tempo escrota comigo como a minha, com quem eu possa dividir meus arquivos mais empoeirados.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O que era um jornal, seria site e não foi, mas foi.


NOVA NOVIDADE NOVAMENTE RESURGINDO:

O ENCOSTO (O retorno)

No tempo de glória do 2º grau, quando você vai para escola de Short de educação física pelo avesso e ninguém faz o favor de te avisar, qualquer manifesto tido como forma de canalizar suas revoltas remanescentes de um dia não menos enfadonho que sua própria vida parece momentâneo. É uma rebeldiazinha aqui, outra má-criação ali, quando não se envereda para a política do vandalismo. Mas a psicologia adolescente não está em questão, o que acontece é que tive momentos de glórias e suas respectivas e conseqüentes revoluções. Uma delas, eis aqui, agora, em formato de site. E permanente.

O Encosto foi um jornalzinho estudantil, um projeto paralelo idealizado por estudantes de uma escola particular de Salvador no intuito muito comovente, de global asseveração e perseverante objetividade, de desmoralizar. Nada que fosse impróprio para uma escola de classe média burguesa, claro está. Só uma edição, das três que aconteceram, que foi inteiramente vetada pela diretoria, era sobre educação sexual. O que surpreende, depois das matérias realizadas a respeito da falta de papel higiênico no banheiro, do novo corte de cabelo inspirado no Galeão Cumbica do amiguinho do primeiro ano e da mocinha da sexta série que andava prestando serviços sexuais aos rapazes do terceiro ano, entre outros furos de reportagem que fuçávamos durante os tão explorados vinte minutos de intervalo.

É claro que aqui, no site, não caberão protestos de cunho tão bem-intencionados, visto que agora não dependo de aval de nenhuma diretoria, da gráfica, quando suplicávamos pela publicação breve, da autorização dos meus pais para sair de casa e fazer a edição do jornalzinho. A Internet pode ser um grande trunfo àqueles que querem veicular suas pequenas revoluções, difundindo seu delicioso sonho de incomodar. Decidi usa-la.

O Encosto não quer que você se preocupe com seu vizinho, com seus colegas de trabalho, com sua comunidade, com seu presidente, com o ideal que você segue, com seus ídolos mortos, com sua vida afetiva bagunçada ou muito bem estruturada, bloco a bloco. Quer que você se preocupe com o que vai além de tudo isso. O que transcende a linha do bem planejado e do senso comum. O Encosto é a parte sórdida e sarcástica de você. Quando nem tudo que parece ser, simplesmente parece ser o que não é, mas é. É o que há de novo dos velhos e bons tempos. É uma humilde inspiração, obtida através de intensas horas de leitura profunda do Pasquim, do Papa Figo, do Gibi do Maurício de Souza. É um novo movimento renascendo das cinzas. Atenção: Não é religião, seita, bando, facção, partido, sensação do funk: É O Encosto.

E com vocês: www.oencosto.com.br. Passe lá, dê seu passe. Não cobramos dízimos e ainda tem sessão de cartinhas de amor. Isto tudo porque hoje e sempre, que viva a famigerada liberdade de expressão!


Ps: Esse texto foi uma tentativa de ressuscitar um projeto para me manter escrevendo. Ai saudades. A foto, a boneca original do jornalzinho, rabiscado como se fosse rascunho de recados.

domingo, 9 de maio de 2010

Leves arabescos!


Uma massa grossa saía do charuto fumegante. Chapéu e violão, parecia seu único companheiro de longas datas e revoluções.

Sempre almejei demais na minha vida, talvez por isso vivo confusa com o que quero, onde, quando e... porquê?

Sua música parava de instante em instante provocando uma interrupção de seqüências lindíssimas de braços e ombros e também uma profunda irritação.

Piano. Doce, repetitivo, cadenciado, subia e descia entre os quadris e o peito. Concentração no instrumento e nas notas que pairavam entre seus dedos. Os pés salteavam o vento, embaixo dos cobertores.

Queria morrer disso, num instante pensei. Viver disso me parece distante, talvez eu tenha passado da idade. E se eu guardar bastante dinheiro e montar uma escola de artes? Preciso de um público fiel, preciso de profissionais qualificados, preciso me qualificar. Vou envelhecer logo.

Agora voam junto com os cabelos as flores e penduricalhos a parear com o vestido rodado de estampa latina. Luzes claras, mas não quentes. Branca, negro, vermelho.