Uma folha em branco.
Não sei quanto tempo tem que não sinto este prazer, mesmo que esta folha seja um campo branco no meio de uma tela. Quando nova, eu costumava escrever no diário, que também fazia as vezes de agenda cotidiana e também de amigo oculto. Mas acumulando-os, percebi o risco que é tê-los, não pelo desvendamento de segredos obscuros (porque estes são mesmo obscuros), mas pelo registro do ser no passado. Foi. Fui. E agora, quem sou?
As dúvidas persistem em cada fase da vida, tomando diferentes formas, novos nomes e agora revertidas em rugas. É difícil encarar o passado, mas o futuro? Este é bem pior. As conquistas surgem e te escapam das mãos como quem teima em te dizer que você ainda é aquela menina que sonhava com coisas tão impossíveis. Outras vezes, acontecem, como se você nem tivesse pedido.
Persistir numa personalidade edificada não é mais tão difícil como antes, mas dizer não ainda dói. E olhe que não tenho filhos. Aliás, filhos seriam um grande problema, ao invés de uma satisfação do meu lado maternal. Um cachorro me ajuda com isso.
Ainda gosto muito de papelaria, talvez pela enorme quantidade de folhas em brancos. E da variedade, é claro, com que se apresentam. Cores, tamanhos, tipos, qualidades e o inconfundível cheiro de livro-caderno-agenda nova. E a primeira letra numa folha em branco: Um início que estraga, que desvirgina e que desencanta. Mas necessário. E imprescindível.
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